11.08.2007

91 – Tourada.

Anda alguma coisa no ar. Alguma coisa grande, notória e proeminente. Algo assim comprido e aguçado. Digam lá o que disserem, ninguém me tira isto da cabeça.

Os sinais acumulam-se: quando vamos de carro para o restaurante, o tecto aparece todo esburacado. Ao entrar pela porta, essa porta que antes cruzávamos erectos e altivos, começamos a ter de nos baixar. Já nem nos olhamos de frente, com medo de vazar um olho a alguém. A conclusão impõe-se, concreta e inequívoca: a Vânia, depois de muito ameaçar que fazia, e que acontecia, e que um dia destes íamos ver, acabou mesmo por cumprir as ameaças, e pôs-nos os cornos!

Dado o serviço restaurativo a que ela por tantos anos nos habituou, ainda acalentámos a esperança de que se limitasse a pôr-nos uns meros palitos, coisa mais usual nestes templos devotos dos comeres e beberes. Mas quais palitos, quais quê, foram mesmo cornos a sério, grossas e incómodas galhadas, daquelas feitas com mais cálcio que um pacote concentrado de leite Matinal, e assim na base de um par a cada um. Agora, quando chegamos, as empregadas já não trazem a correr um jarro de vinho, vão mas é à gaveta buscar as bandarilhas. Se nos queixamos, perguntam-nos se estamos a querer marrar com elas, e nós lá nos deixamos ficar, bovinamente silenciosos, sob um mar de ominosas armações. Não há que duvidar, a mesa 19 está mais cabisbaixa, e isso é uma coisa que nos pesa.

A menina, depois de correr com todo o material recreativo que ainda subsistia por ali, coisas tipo a Lana e a Marta, deu por fim o golpe de misericórdia no nosso regalo visual, correndo consigo própria. Para melhor nos enganar (isto de enganar é algo intrínseco ao acto de pôr os cornos), foi dizendo que não, que continuava por lá, só se ausentava às segundas-feiras. Pois, mas agora parece que todo o dia é segunda-feira. Nós para ali ficamos, sozinhos e cornudos, e ela anda lá longe, espojando-se na iniquidade badalhoca da sua traição, pelas terras depravadas da Porcalhota. Quer dizer, ela peca e diverte-se, e nós, cornos. Ora gaita, devíamos ter combinado isto ao contrário!

Mas talvez seja exagerado dizer que ficámos sozinhos. Não estamos nada sozinhos, não senhores. Nestes dias duros e longos, em que nos temos esforçado por nos adaptar à nova decoração das nossas testas, temos sido competentemente servidos pelo irmão da nossa infiel Messalina. O supracitado irmão, moço excelente e impecável, de trato fácil e cordato, é assim um rapaz grande e musculado, que faz irresistivelmente pensar no que seria o resultado se, um dia, o Silvester Stalone resolvesse fazer um filho ao Leonardo di Caprio. Ser musculado e bem-parecido pode até resultar numa combinação interessante, mas apenas em certos bares, e só depois das 11 da noite. Além disso, o rapaz tem o sério defeito de não ser uma moça jeitosa, por mais que tentemos dar asas à imaginação. É que a nossa imaginação, há que ser realista, não tem asas, nem nada que se pareça. Tem é cornos.

O resto é paisagem. Lá anda a Queen Elizabeth, que não desgostaria de aportar vez por outra à mesa 19, mas vai sendo mantida convenientemente ao largo pelo já descrito Tarzan Taborda, ainda mais ciumento do que a mana alguma vez foi. O Superboy também nunca mais se chegou a nós, mas isso é fraco consolo, no meio da nossa chifruda tragédia. E o nosso drama não é o excesso de cálcio nas extremidades, é mesmo a falta da Vânia.

Pois é. Quando julgávamos que tudo tinha sido já dito, na longa insanidade de 90 crónicas, eis que surge agora algo de completamente novo: temos saudades da Vânia. Eu sei que parece que estou a gozar, mas não, é mesmo verdade. Vá-se lá saber porquê, mas acho que já nos habituámos àquela loura surpreendentemente concentrada, mais os seus miolos fritos por anos poli-saturados de psicologia.

Isto não é tudo, nem pouco mais ou menos, mas agora tenho de ir almoçar. Por isso, e em jeito de resumo, aqui fica a mensagem: Vânia, podes voltar, a gente gosta de ti. Gostamos mesmo de ti, a sério. Palavra de corno.

2 comentários:

Anónimo disse...

Vania??

Abobrinha disse...

Nuno

Com um par de cornos pode qualquer um! O cálcio faz bem, dá saúde e faz crescer.

Dito isto, não entendi a cena dos cornos, mas não faz mal. Eu tinha algures um post sobre a importância social do corno. Não é para fazer publicidade: é mesmo só para evitares ler o que lá escrevi, porque não se aprende nada! E eu não sou esperta por aí além para entender uma piada assim!