9.09.2012

97 - Onze é um par de cornos.


E eis que se cumpriu a profecia: tal como os maias tinham previsto, em 2012 tudo se acabou. Não terá acabado o mundo, que esse, ao que dizem, parece que ainda continua a girar, por via de qualquer causa obscura que nem mesmo ele conhece. Não, é muito pior do que isso. Não se acabou o mundo, mas acabou a mesa 19. Ou antes, acabou-se o 19 da mesa.

Serve esta crónica para deixar registo do final dos tempos, e dizer os veros factos do último dislate de um restaurante onde a asneira infelizmente não releva pela raridade. Num afã de obliterar os derradeiros vestígios que ainda recordavam a nobreza de dias idos, a gerência renumerou as mesas. A mesa 19, de ilustre memória, é agora a mesa 11.

Ou melhor, não é. A mesa 19, já aqui tem sido explicado, nunca foi uma tábua sobre pernas. A mesa 19 é um estado de espírito, uma força da natureza, um pináculo que não se rebaixa, apenas se senta por vezes para almoçar. O 19 é o seu resumo e a sua essência, completo com o primeiro algarismo e o último, o alfa e o ómega. O restaurante optou agora por eliminar aquele número grandioso, e substituí-lo pela simplicidade pífia de um 11 sem garra e sem alma. Depois do 1 vem outro 1, tal como a um bife triste se sucede outro mais soturno ainda, idêntica fatia da mesma vaca que viveu mal e morreu pior. Enquanto isso, a verdadeira mesa 19 vive em mais verdejantes pastagens, onde come e bebe com alegria. A mesa 19 é um animal pujante de força e vida; o restaurante da mesa 11 é só a parte do corno.

Num raro dia a casa mirou-se ao espelho, e reconheceu que a nobreza daquele 19 que lhe adornava a fronte não quadrava bem à sua natureza pedestre e mesquinha. Sacudindo com rancor a melena sebenta, esfregou no elevado signo a aguarrás da sua mediocridade, e enfeitou-se com aquele par de palitos. Pois então, é deixá-la! Vistos daqui, há que reconhecer que até lhe ficam a matar.

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