9.19.2006

27 – The Shining (Voando sobre a mesa 19).

Um destes dias, tenho de deixar de frequentar a mesa 19. Não porque não goste de lá ir, até aprecio bastante, mas anda a fazer-me mal. Não apenas um mal subjectivo, que eu poderia tentar resolver interiormente, mas mesmo um mal objectivo, algo que vem de fora, e impende sobre mim. Parece confuso, bem sei, mas eu explico.

All work and no play makes Nuno a dull boy.....

Ver elefantes cor-de-rosa bebé será, sem a menor dúvida, um problema subjectivo, já que se refere exclusivamente ao sujeito, o tal que vê os improváveis paquidermes cor de gay. Quando, todavia, as vozes colectivas desatam a afirmar que fulano vê elefantes cor de gay, o problema torna-se objectivo, já que o sujeito das alucinações precedentes se faz objecto de uma cabala, que mais não pretende do que encarcerá-lo, pretextando para tal a sua insanidade. Mas eu não estou louco, garanto-vos isso.

All work and no play makes Nuno a dull boy.....

Esclareçamos isto um pouco melhor. Há os malucos, é certo, e bem assim, os que estão saudáveis de espírito, mas há também uma inteira panóplia de casos intermédios, pois a vida não é só a preto e branco. Cai justamente nessa classificação intermédia o meu caso particular: não acredito que a minha condição mental bastasse para me internarem; mas, caso já estivesse internado, duvido muito que me dessem alta…

All work and no play makes Nuno a dull boy.....

Vem isto a propósito das cinco beldades que invadiram hoje a nossa sala, tendo mesmo o desplante de se sentarem na mesa adjacente à nossa. Palavra de honra que, pensei eu, se elas fazem disto um hábito, ainda me ponho a escrever as crónicas da mesa 18, com textos que farão inveja à versão nova-iorquina da Playboy... Mas, na altura, limitei-me a elogiar a Vânia por ter vindo ao encontro dos nossos pedidos, referindo-me a uma crónica antiga, em que censurava o restaurante por não ter nunca mulheres bonitas, coisa que agora lhe agradecia ter providenciado. Respondeu ela, para minha grande surpresa, Sim, são minhas colegas da escola.

All work and no play makes Nuno a dull boy...

Foi aí que eu me retraí, sentindo gelar as minhas extremidades. Eu sempre me senti desconfortável ao pé de psicólogos, devo desde já confessar. Essa ideia de que um sujeito que nunca me viu na vida se arroga um conhecimento de mim superior ao que eu próprio tenho, parece-me a quintessência do charlatanismo, confesso. Mas persiste o facto de o olhar perscrutador deles me deixar desconfortável, e a quem não deixaria, bolas? Ainda para mais, têm todos um cérebro do tamanho do Einstein (do tamanho do próprio Einstein, note-se, não do tamanho do cérebro dele), e fazem-nos parecer muito pequeninos, muito burros.

All work and no play makes Nuno a dull boy...

Outra noção, da qual nunca me consegui libertar completamente, tem a ver com os poderes telepáticos que eles possuem. Um psicólogo fixa em nós os seus olhos coruscantes, e sentimos que ele nos consegue ler a mente, com tanta facilidade com que nós lemos o jornal da tarde. Foi talvez isso que me intimidou hoje, no nosso almoço com companhia feminina, por assim dizer.

All work and no play makes Nuno a dull boy...

As cinco lindas criaturas palravam alegremente, Deus sabe sobre o quê, nós não. É necessário esclarecer, neste ponto, que a capacidade auditiva dos homens se situa, de um modo geral, numa frequência sonora inteiramente diversa daquela que as mulheres usam para comunicar. A isto se deve que tanta mulher diga ao seu marido, Tu não ouves nada do que eu te digo, quando a verdade é que ele, coitado, não ouve nada do que ela diz.

All work and no play makes Nuno a dull boy...

Mas as psicólogas são diferentes, elas sabem ler o conteúdo da nossa mente. Tendo isto em conta não me custa imaginar o que se passou hoje na mesa 18, a tal que é adjacente à mesa 19. A sílfide loura fixou os seus raios mentais no meu cérebro, e arrepiou-se com as patologias que aí encontrou. As restantes musas leram as outras mentes que a nossa mesa comporta, e concluíram que não encontravam já tais níveis de perversão, desde os tempos remotos em que os hospitaleiros Bórgias faziam questão de temperar, pessoalmente, a sopa dos seus convidados.

All work and no play makes Nuno a dull boy...

E é assim que as pessoas se lixam. Neste momento, já toda a gente do instituto da Vânia recebeu a notícia, espalhada pelas cinco ninfas, da escumalha que nós somos. A minha alma religiosa, no entanto, inclina-se para o perdão.

All work and no play makes Nuno a dull boy...

Sim, eu acho o perdão muito importante, e só lamento que tanta gente pense de diferente modo. Estas cinco, por exemplo… se elas me deixassem, eu era capaz de passar a noite inteira a perdoá-las. Mas duvido que o quisessem, no entanto, tal é a ingratidão da mulher. E vê-se bem, todavia, que são boas pessoas, e só um doido pensaria o contrário. Como eu penso, por exemplo.

All work and no play makes Nuno a dull boy...
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1 comentário:

Anónimo disse...

Adorei este texto subtilmente maroto. Não te importavas de passar uma noite inteira a perdoá-las? Eheheh! Tinha saudades de te ler :)) Beijo enorme, dos azuis e verdes :)