12.11.2006

55 – Admirável mundo novo.

Devido à época dos feriados, o autor ver-se-á impossibilitado de escrever atempadamente algumas das crónicas. Estas serão escritas por autores convidados, em sua substituição. A presente crónica foi escrita, a nosso pedido, por um imbecil.

Olá, estão todos bons? Eu sou o Bernardo Bobone, e foi com grande satisfação que aceitei o convite para escrever esta crónica da mesa 19. Para dizer a verdade, estou mesmo um pouco excitado. Ora bolas, para quê mentir, estou muito excitado. Já não me sentia assim, sei lá, desde o dia em que comprei o GPS para o meu jipe (eu só uso o jipe para ir para o trabalho, que é para não o sujar, mas se um dia for viajar com ele, aquilo vai dar muito jeito).

Eu sou um grande admirador da mesa 19, sabem? Acho giríssimo que as pessoas se juntem assim, e digam coisas inteligentes, e todos se riam muito, e tudo. Eu também já tentei fazer isso, mas o problema é que nunca me lembro de nada para dizer. Mesmo assim, de vez em quando lá sai alguma coisa, mas depois todos se riem, e eu não percebo porquê, porque aquilo nem era para ter piada. Mas pronto, o importante é que as pessoas se divirtam.

Apesar de tudo, sinto-me na obrigação de formular algumas críticas à mesa 19. Não me parece bem, por exemplo, que se beba tanto ali. Bem sei que as descrições do autor costumam ser um pouco exageradas, mas sempre se chega a gastar ali, sei lá, um litro de vinho, e às vezes ainda há digestivos. Não é por mais nada, mas são pessoas que ainda vão trabalhar a parte da tarde, e estou seguro de que o patrão não gostaria de os ver beber tanto. Eu, pessoalmente, nunca sei quem me está a ver, e por isso só bebo ice-tea.

Outra coisa que acho mal, é o tempo que eles gastam a almoçar. Sejamos honestos, aquilo são pessoas empregadas, que recebem um ordenado para desempenharem um certo trabalho, num determinado horário, e a quem o empregador atribuiu sessenta minutos para almoçar. Demorar quase duas horas nessa função, é cometer uma fraude. Eu próprio nunca gastei mais de cinquenta minutos a almoçar, mas depois, quando o meu director me veio pedir para ser mais produtivo, arranjei maneira de diminuir o tempo para vinte minutos. E até tive vantagem nisso, estou muito mais magro, agora.

É que é preciso ver como estão as coisas, hoje em dia. Os empregos escasseiam, e há que manter aquele que temos. É claro que isso implica alguns sacrifícios, como o horário alargado, os fins-de-semana trabalhados a título gracioso, os turnos de prevenção gratuitos, mas é preciso olhar para isso como um privilégio, e não como uma imposição. A coisa podia ser bem pior, podíamos estar todos a viver debaixo da ponte, em vez de ter um patrão que ainda nos vai pagando um ordenado.

Eu aprendi muito cedo a minha lição, temos que lhes dar o que eles nos pedem. É bem possível que não consigamos chegar a lado nenhum dessa forma, mas qual é a alternativa? Vamos correr o risco de irritá-los, fazendo o que nos apetece, e expor-nos a perder o emprego? Não há volta a dar-lhe, quem está na mó de cima manda, e quem está na mó de baixo tem de aguentar.

Bolas, e eu, com isto tudo, acabei por não escrever a crónica que me pediram. Paciência, agora também já não pode ser. Estou cheio de pressa, o meu chefe convocou-me para uma reunião de última hora, às oito da noite. São sempre de última hora, estas reuniões, e esta nem é muito má, a do outro dia foi às onze da noite. Enfim, há que fazer alguns sacrifícios, neste mundo corporativo.

Se me voltarem a convidar, prometo que escrevo uma crónica a sério. Até já me lembrei de um tema, farei uma breve dissertação sobre a sodomia passiva, e as formas como esta nos pode ajudar na nossa carreira profissional. Até lá, despeço-me, com um grande Xi, do

Bernardo Maria Bobone
Otário Certificado.

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