1.03.2007

57 – Feliz Natal.

‘Twas the night before Christmas,
And, all trough the house,
Not a creature was stirring,
Not even a mouse…


Assim começa um dos mais célebres poemas de Natal, e pareceu-me também apropriado começar assim esta crónica, nesta época festiva, em que os olhos se acendem de alegria, com maior ou menor voltagem, dependendo dos casos, e os corações se elevam no mais espiritual êxtase, com os previsíveis distúrbios gástricos que tal condição acarreta. Que se lixe, é Natal, tlim, tlão, etc.…

Não há, desde que o imperador Constantino decidiu fazer do cristianismo a religião oficial do império, festividade mais abrangente do que o Natal. Dos pólos ao equador, em toda a parte se pode encontrar um cristão, e em toda a parte se celebra alegremente o Advento. Neste dia, especial entre todos, não se morre como habitualmente, na Somália ou em Bagdade. Não, morre-se festivamente, de uma fome travestida de banquete, ou despedaçado por bombas que ressoam como sinos. É Natal, caramba!

Então, e nós? Bem, nós por cá todos bem, na mesma vidinha que já o Chico Buarque cantava, esperando aumento, desde o ano passado, para o mês que vem. A mesa 19 só não emparelha com o célebre grupo dos “vencidos da vida”, porque se dá o pequeno detalhe de nenhum de nós ser célebre. Fora isso, este foi um ano para levar qualquer pessoa a compartilhar o famoso desejo de Woody Allen, de ser outra pessoa qualquer. Eu, pessoalmente, levei a maior parte deste ano que agora finda a sentir-me como aquele peru a quem desejaram Feliz Natal. Enfim, o ano que vem vai ser melhor.

Mas, será mesmo? Ou não passará tudo de um daqueles truques publicitários, tipo, a única lixívia que respeita as cores? Eu experimentei essa treta no meu peixinho vermelho, e garanto que ele mudou de cor. Além disso, está muito mais morto, e o anúncio não avisava que isso podia acontecer! Será que essa história do Ano Novo é mais um golpe desses?

Pela dúvida, acho que vou já começar a escrever a minha lista de desejos para o Pai Natal. No topo de tudo, claro, está a fortuna do euromilhões, que é para poder mandar certos gajos passear.

Segue-se a anexação de Portugal por um país estrangeiro, como um Emirato Árabe, por exemplo. Isso permitia-me ir trabalhar lá para longe, para o deserto, por um ordenado dez vezes superior. E sempre aproveitava para mandar certos gajos passear.

É claro que não podiam faltar, na minha lista, alguns sacos de explosivos de elevada potência, com que eu pudesse arrasar certos gajos. Quando tivesse acabado de os desfazer, mandava-os todos passear.

Mas, pronto, o Pai Natal não existe, e não há de haver lista que nos valha. Resta-me formular as minhas resoluções para o Ano Novo, às quais espero corresponder.

Estou firmemente decidido a encarar a vida mais a sério, tornando-me assim num elemento útil da sociedade. Conjuntamente, espero conseguir morigerar a mesa 19, que abandonará também os seus hábitos desbragados. Quando todos nos tivermos convertido em cidadãos modelo, honestos e regrados exemplares de vida casta e sóbria, talvez nos juntemos todos, e mandemos certos gajos passear. Ou, então, talvez o façamos ainda antes disso, não vá o resto não vir a acontecer nunca.

1 comentário:

Anónimo disse...

Tomo sempre grandes resoluções de ano novo. Este ano, como já mandei uns certos gajos passear, resolvi apenas que vou tentar ser feliz e amar os que me rodeiam... Aquele Beijo