1.23.2007

66 – A bestinha.

Cometi recentemente um erro. Afirmei, em crónica transacta, que a ultima, o retrato fidedigno, e só incidentalmente infactual, da minha morte, seria a crónica 66. Naturalmente, relacionei tal coisa com o meu suposto falecimento, donde a alusão à besta, que seria obviamente a do apocalipse, em versão reduzida. Pois bem, erro meu, má fortuna, amor não sei que mais. A crónica 66 é esta, e a besta, desiludam-se os meus caros amigos, parece que afinal não sou eu.

Pois bem, perguntará o leitor interessado, quem é então a besta? Certo é que se trata aqui de um mero 66, e não do 666 completo e inteiro, a besta lidada em toda a sua corpulência e magnitude. Não, aqui temos de nos haver com um simples 66, uma bestinha, quando muito, espécie de papa-formigas que substitui os leões, neste circo pelintra que é a vida de todos nós.

Contudo, mesmo um circo delapidado continua a ser um circo, e não é por isso que o devemos menosprezar. Não há leões, bien entendu, e vemo-nos forçados a substitui-los por outra bicharada, mas isso não tem remédio, estando portanto remediado à partida. Falta apenas saber algo, onde estão de facto esses papa-formigas, quem são eles, concretamente? É aqui, justamente, que a porca torce o rabo, o que só tende a aumentar a barafunda, visto que não há qualquer porca neste circo.

No meio desta confusão zoológica, há todavia um animal que triunfa, a bestinha. A bestinha é um daqueles bichos que Lineu não teve a pachorra de descrever, mas que nem por isso deixa de ter existência real, para mal de todos nós.

Tome-se, por exemplo, a estimada colega que tive o prazer de aqui descrever, duas crónicas atrás. Ela é, claramente, uma bestinha. Isto, concretamente, porque é uma besta, mas não tem categoria que chegue para ser A Besta, a do B maiúsculo. Não, ela é sem dúvida um sinal do Anti-Cristo, mas está bem longe de ser a Besta do apocalipse. Podem os povos ficar tranquilos, que o Armagedão ainda não chegou, por mais bestas que por aí andem.

Isto é, sem dúvida, uma questão pertinente e actual. O evangelista João profetizou o fim do mundo, e garantiu apenas que o Anti-Cristo seria uma besta. Hoje em dia, cercados por todos os lados de criaturas desta espécie, não podemos deixar de nos questionar, de onde virá o nosso fim?

O que nos falta, nos tempos modernos, é um apóstolo que nos ajude a dissecar as bestas, uma a uma, e nos diga que não, que aquela que ali vemos é só uma bestinha, feia mas inofensiva. Talvez, então, deixássemos de recear a besta, e puséssemos finalmente estas bestas todas no seu lugar.

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