1.11.2007

61 – Floribesta.

A mesa 19, às vezes, não mede bem o que diz, nem o volume da voz com que o diz. Ora bolas, às vezes, o tanas, é mas é sempre. Nós somos uns gajos porreiros, mas também somos bastante desbocados. Isso tende, por vezes, a acarretar consequências mais ou menos infelizes.

Foi esse o caso do recente amuo da turma do Harry Potter, que, arrufada pelo tal comentário que até nem era sobre eles, mas que eles julgaram que era, se passou a sentar na outra sala, longe dos selvagens que não respeitam ninguém. Com isso, a nossa sala ficou muito menos divertida, o que foi pena.

Serve esta crónica para propor que se faça algo para pôr fim a esse estado de coisas, e revitalizar a vertente lúdica e recreativa daquele restaurante. Com isto em mente, fartei-me de dar tratos à bola, e cheguei mesmo a desenhar alguns esboços, vendo-me contudo forçado a desistir, quando cheguei àquele em que o patrão punha um nariz de palhaço, e um tutu de bailarina. As ideias eram boas, sem dúvida, mas ainda não era bem aquilo, ainda faltava qualquer coisa.

De súbito, com o brilho ofuscante de um clarão, fez-se luz no meu espírito. A solução ideal, moderna, arrojada, seria transformar aquele banal estabelecimento num restaurante temático. E nem sequer faltava o tema: o que poderíamos fazer de melhor, do que irmos buscar a inspiração a essa divertida e popular comédia, a Floribela?

A coisa até não seria difícil. A Vânia podia habituar-se a usar umas saias compridas, tipo manta de farrapos coloridos, e a dizer coisas como, Super Hiper Mega Ri-Fixe, de cada vez que alguém lhe perguntasse qual era o acompanhamento da carne assada. É claro que necessitaria pelo menos de uma lobotomia parcial, a fim de adquirir o QI da personagem, mas isso seria apenas um pequeno sacrifício. De resto, dizem que os patetas são muito mais felizes.

Em seguida, teríamos de arranjar um Frederico. Isso era capaz de ser mais complicado, visto que não é qualquer pessoa que serve para o papel. Alguém me sabe dizer onde podemos encontrar um jovem elegante, de barbinha bem aparada, com vincadas tendências pederastas, e aquele ar apertadinho de quem não caga há seis dias? E o aspecto intelectual, como é evidente, também é muito importante. Saber contar até dez, por exemplo, bastaria para desqualificar de imediato o candidato ao papel.

Eleitos os protagonistas, haveria que estudar os respectivos papéis. Esses, felizmente, são de uma simplicidade encantadora. Basicamente, a Floribela gosta do Frederico, e o Frederico gosta da Floribela, e por isso, naturalmente, não namoram. Faz todo o sentido, visto que gostam de pessoas diferentes. Há todavia, outros gostos em que são mais compatíveis, como por exemplo, a preferência que ambos parecem manifestar por homens, sobretudo barbudos.

Julgo que há ainda outras personagens, mas confesso que não faço a menor ideia de quem sejam. Estou no entanto convencido de que qualquer vulgar bando de atrasados mentais poderia, com vantagem, representar esses papéis. Talvez se consiga convencer a Vânia a arranjar alguns psicopatas sortidos, que serviriam perfeitamente.

O resto são pormenores, que não haveriam de dar muito trabalho. A ementa, por exemplo, teria de ser toda escrita de novo, de forma a incluir coisas como “carapaus com molho à Floribela”, “dobrada por baixo do Frederico”, “jardineira desgraçadinha”, “bife à pobre com molho de cantigas”, e outros pratos do mesmo género.

É claro que a característica fundamental da Floribela, aquilo que a define, é a enorme alegria que ela sente em ser pobre. É por isso, de resto, que ela não casa com o Frederico, porque, caso o fizesse, ficaria rica, e já não poderia ser alegre. No mais estrito respeito por este espírito, os preços de todas as refeições teriam de baixar bastante, e o vinho passaria a ser oferecido.

E pronto, aqui fica, em linhas gerais, uma ideia que me parece interessante, e facilmente exequível. Os almoços seriam muito mais divertidos, e a afluência ao restaurante aumentaria enormemente. O ponto alto, evidentemente, seria no fim da refeição, quando a Vânia, dançando ao som do “não tenho nada, mas tenho tudo, tudo”, cantaria a lista das sobremesas. A Marta, em pano de fundo, tentaria beijar o Frederico, que se esquivaria, para ir atrás do Vítor. Ora digam-me lá, em que outro sítio, fora da televisão, é que poderíamos assistir a uma novela destas? Só mesmo aqui, com os cumprimentos da mesa 19.

1 comentário:

Anónimo disse...

Quem me dera almoçar na mesa 18... Poker