1.26.2007

69 – … E vira!

Sinto-me no dever de avisar que este post, ao contrário da maioria dos outros, não é próprio para todas as audiências. Às pessoas púdicas, recatadas, moralistas, ou simplesmente sofrendo de momentos de bom gosto, recomendo que ignorem esta entrada, e se dediquem às próximas. É que eu hoje ajavardei um bocado, e não sei se toda a gente será capaz de lidar com isso.

Pronto, tinha de acontecer. Guiados cegamente pela mão de ferro das inexoráveis progressões aritméticas, as tais que fazem suceder o três ao dois, e o vinte ao dezanove, chegámos finalmente, inevitavelmente, à crónica 69. Conhecendo como conheço esta malta de ginjeira, estou mesmo a ver o que é que esperam de mim. Pois bem, desiludam-se, eu sou um autor sério, e não tenho a menor intenção de me pôr a escrever sobre essas porcarias.

Parece quase que foi ontem que o Paulo escreveu, em comentário a uma crónica remota, julgo que seria a 9, ou então a 10, “aceito que, quando chegares à crónica 68, saltes directamente para a 70”. A coisa era uma piada, então, e ninguém cria sinceramente que as crónicas um dia chegassem tão longe. Quanto caminho se percorreu entretanto, quantos disparates foram já derramados sobre as inocentes páginas deste blog. Quantas coisas importantes se disseram, também, e será que valeu a pena dizê-las?

O 69, em si próprio, é apenas mais um número, sem nada que o distinga de tantos outros números. Vi um dia, por exemplo, um prédio que era o número 38, e juro que nada tinha de especial. Eu próprio moro numa casa que ostenta o número 7, e não me ando propriamente a gabar disso.

Acontece apenas que o 69, por figurar dois algarismos em posições inversas, se tornou na designação de um acto sexual bastante badalhoco, em que o casal interveniente assume, de facto, essas posições inversas, alambazando-se em seguida numa espécie de javardeira a dois. O número em si, coitado, não tem culpa de nada, e nem chega a lamber coisa nenhuma, nesta improvisada ice-cream party do erotismo.

A pobre da matemática, desgraçada, é que é abusada neste lamentável processo. Mas não faz mal, a matemática está bem habituada a sofrer abusos destes, e já nem liga nenhuma. Recordo-me que, há tempos, a marca favorita de cachaça, no Brasil, era a 51. Isto levou à criação de uma nova posição sexual, o 120. Segundo explicam os entendidos, um 120 consistiria em executar um 69, com uma garrafa de 51 metida no cu.

Tudo isto são badalhoquices vergonhosas, indignas do elevado quilate deste blog. O 69, concretamente, é uma invenção pérfida e peçonhenta, com todas as trocas de fluidos corporais, suor, e sei lá eu que mais, já para não falar de todas aquelas lambidelas. A língua fez-se para louvar o nome do Senhor, meus irmãos, e essa é que é essa.

Considere-se por exemplo um jovem casal, homem e mulher unidos pelos santos laços do sagrado matrimónio. Naturalmente, ao longo da sua vida em comum, hão-de surgir problemas. Há pois que discuti-los seriamente, impõe-se o diálogo honesto, abertura franca de mentes, sob os paternais auspícios da Santa Madre Igreja. Pois bem, o que fazem eles? Em vez de dialogar, dirigem os seus lábios, justamente, ao pólo oposto da questão. E a jovem esposa, reconfortada, cuida que resolveu os seus problemas porque, ao invés de conversar com o seu marido, amo e senhor, lhe chupou a gaita. Ele, pelo seu lado, tem a boca cheia de pelos, e nem o vinho lhe sabe bem. Ora digam-me lá, vale a pena condenarem-se assim às fogueiras do Inferno duas almas tementes a Deus, apenas por uma mamada?

Não, a coisa assim não pode ir lá. Como diria o célebre Diácono Remédios, qualquer dia, se não tomam cuidado, andam por aí a lamber postes de telefone, e os homens a terem orgasmos de cada vez que chupam umas patas de sapateira. Depois, quando menos se precatam, desatam a enfiar o que tiverem à mão em tudo quanto é orifício, e foi assim que Sodoma se lixou.

Há coisas que não temos o direito de permitir, que é forçoso condenar. A Santa Madre Igreja, cujos padres não estão autorizados a dar uma queca, é que sabe como se hão-de dar as quecas. Comer o rabo à empregada doméstica está dentro dos limites, mas um 69 com a mulher legítima é algo fora de questão. Já se for feito com um menino do coro, por trás do altar, o caso muda completamente de figura. Afinal de contas, os padres, porra, também são seres humanos.

E, perguntam-me vocês, como se relaciona a mesa 19 com esta polémica questão? Pois bem, com muita tranquilidade. Somos sobretudo, como já tive ocasião de aqui mencionar, um grupo de pessoas normais, com atitudes normais. Nunca ocorreu discutirmos ali tal assunto, mas estou firmemente persuadido de que aquela gente conhece o 69, e não é por ter lido sobre ele na Internet. Do mal, o menos, no entanto: julgo que ninguém, por aquelas bandas, é adepto do 120.

Quanto ao resto, creio que o próprio Deus recomendou, no primeiro livro da Bíblia, o livro do Génesis, que nos amássemos e multiplicássemos. O primeiro conselho é bom, quem é que não gosta de fazer amor? Mas ninguém consegue passar o tempo todo a multiplicar-se. É que não é humanamente possível, simplesmente. Nesses casos, um bom 69, de vez em quando, vem muito a jeito, para variar um pouco.

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